Causa e Efeito

A agricultura, o aquecimento global e os danos que as mudanças climáticas devem causar na produção agrícola mundial compõem um importante ciclo de causas e efeitos relacionados.

Por um lado, a agricultura é uma das responsáveis pelo aumento de temperatura: as emissões do setor, somadas ao desmatamento para a conversão de terras para o cultivo, representam algo entre 17% e 32% de todas as emissões de gases do efeito estufa provocadas por atividades humanas. É o que dizem cálculos independentes de Pete Smith, da Universidade de Aberdeen (Reino Unido), um dos autores do capítulo de agricultura do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas).

Por outro lado, observa-se igualmente um efeito “feitiço contra o feiticeiro”: a agricultura pode passar à condição de vítima do problema que ela está ajudando a criar.

Em 2005, segundo o IPCC, o setor emitiu entre 5,1 e 6,6 gigatoneladas (bilhões de toneladas) de gás carbônico-equivalente (CO2-eq – unidade-padrão em que todos os tipos de gases-estufa têm sua capacidade de contribuir para o aquecimento global convertida em quantidades de CO2). Este número leva em conta somente as emissões diretas do setor, formadas principalmente pelo metano (CH4) – proveniente dos campos alagados para plantio de arroz e da digestão de matéria vegetal pelo gado – e pelo óxido nitroso (N2O), emitido sobretudo pelo uso de fertilizantes e pela queima de biomassa.

O maior problema, no entanto, está nas emissões de gás carbônico promovidas pelo uso da terra e pela conversão de florestas em terras agrícolas. A queima ou o apodrecimento das florestas libera no ar o carbono que estava armazenado nos troncos, folhas, raízes e solo. Quando essas emissões são creditadas na conta da agricultura, a parcela do setor fica entre 8,5 bilhões e 16,5 bilhões de toneladas de gás carbônico-equivalente, segundo cálculos de Smith.

É justamente a derrubada de florestas que coloca o Brasil na posição de quarto maior emissor de gás carbônico do mundo (ou quinto, se a União Européia for considerada como um todo). De acordo com inventário do governo federal publicado em 2004, o Brasil emitia em 1994 pouco mais de 1 bilhão de toneladas de CO2. Aproximadamente 75% eram resultantes do uso e da mudança no uso da terra, principalmente de desmatamentos, em todo o país.

Impactos na agricultura

A elevação da temperatura provocada pela alta concentração de gases de efeito estufa deve causar um impacto negativo na agricultura de quase todo o planeta. O aquecimento trará alguma vantagem somente para o cultivo nas regiões de alta latitude. Tornando-se menos geladas do que são atualmente, essas áreas poderão no futuro abrigar plantas que hoje não resistem ao frio.

No entanto, os danos previstos devem ser bem mais significativos. A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentos) afirma que a segurança alimentar pode ser prejudicada em três pontos: disponibilidade, acesso e estabilidade do suprimento.

O derretimento das geleiras do Himalaia, por exemplo, vai prejudicar o suprimento de água para China e Índia, comprometendo sua agricultura e agravando a insegurança alimentar nos dois países mais populosos do mundo. O mesmo deve ocorrer em países africanos, que dependem da agricultura irrigada pelas chuvas. No continente africano, a perda de produção agrícola pode chegar a 50% em 2020, segundo projeções do IPCC.

O painel de cientistas estima ainda que os trópicos terão uma redução das chuvas, com o aquecimento, e um encolhimento das terras agriculturáveis. Mesmo uma pequena elevação na temperatura (de 1°C a 2°C) pode reduzir a produtividade das culturas, estimou o painel, o que aumentaria o risco de fome.

O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2007/2008 do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) projetou um aumento de 600 milhões de pessoas no número de subnutridos até 2080. Já hoje algumas mudanças vêm sendo registradas em todo o mundo, como o maior número de quebras de safras e a morte de cabeças de gado, ressalta o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2008, do Banco Mundial. Para a América Latina, o IPCC estima uma aridificação do Semi-Árido e a savanização do leste da Amazônia.

Para a agricultura, o IPCC prevê perda da produtividade de várias culturas, o que deve trazer conseqüências preocupantes para a segurança alimentar. Algumas dessas projeções foram confirmadas pelo estudo realizado pela Embrapa e pela Unicamp: a maior parte das culturas brasileiras vai sofrer com a elevação da temperatura.


    
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